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Falências

Data:08/07/2011

A última das concordatárias
Autor:Valor Online

A fabricante de fechaduras Haga, de Nova Friburgo (RJ), está prestes a se livrar da concordata que se arrasta há nada menos que 22 anos. E os rumores sobre fim do processo judicial da companhia já despertaram a ambição de um tipo bem peculiar de investidor: o especialista em ganhar dinheiro com papéis de empresas que, apesar de estar em dificuldades, não raro figuram entre as maiores altas anuais da bolsa. 

"Falta apenas o juiz dar a sentença de encerramento do processo", afirma o síndico da concordata da Haga, Júlio Brandão Azambuja. 

Em maio, a empresa foi autorizada a iniciar o pagamento dos credores habilitados. Isso bastou para que o advogado Lucas Tonon começasse a comprar ações. Aos poucos, visto que a companhia tem baixíssima liquidez no mercado, já gastou mais de R$ 100 mil. 

Os papéis preferenciais (sem direito a voto) da Haga acumulam alta de 54,2% desde o início do ano. Ontem, foram cotados a R$ 4,38, em queda de 0,45%, avaliando a empresa em R$ 50,6 milhões. 

Com particular simpatia por empresas problemáticas, Tonon, 25 anos, começou a investir na trading de soja Agrenco quando estourou um escândalo em meio a uma investigação da Polícia Federal em 2008. 

Pode parecer loucura para alguns, mas ele garante que apostar em papéis de baixa liquidez - considerados "micos" pela maioria dos investidores, pois são difíceis de vender - "dá mais certo do que ficar pulando de galho em galho". 

A Haga tem mais dívidas que ativos, o que se traduz num patrimônio negativo - ou passivo a descoberto - de R$ 107 milhões. 

A empresa, no entanto, deu lucro nos últimos três anos e esse foi um dos fatores pelos quais Joel de Souza Junior, também advogado, começou a comprar papéis da companhia, pouco tempo depois da Haga ter conseguido entrar em acordo com o Banco do Brasil, seu principal credor. 

Segundo o investidor, a dívida de empresa de R$ 48 milhões com o banco caiu para R$ 10 milhões. Além disso, a dívida tributária de 63 milhões está incluída no Programa de Recuperação Fiscal (Refis). 

"O que me chamou mais atenção na empresa foi a recuperação surpreendente dos resultados. Uma companhia que teve fornecimento de água e luz cortados por falta de pagamento voltar a apresentar lucro", diz. 

A aposta dos acionistas é que, no médio prazo, possa acontecer com a Haga o que ocorreu recentemente com a fabricante de tesouras Mundial: uma migração para um nível mais elevado de governança corporativa que fez as ações da companhia dispararem na bolsa. (Vale lembrar que são situações diferentes: a Mundial não tem patrimônio negativo, por exemplo.) 

"Quando a concordata chegar ao fim, vai ser uma grande festa em Nova Friburgo. A empresa emprega muitos funcionários, e a cidade ainda está muito abalada com tragédia das enchentes no ano passado", diz. 

Procurada pelo Valor, a Haga não quis comentar a situação da sua concordata, tampouco o Banco do Brasil. O banco alegou que "as informações quanto ao relacionamento comercial entre o BB e a empresa estão protegidas por sigilo bancário". 

Mas nem só de boas surpresas vive o universo da ações sem liquidez, onde qualquer negociação representa um ponto fora da curva. Na mesma intensidade que o preço de um papel no mercado sobe, despenca. 

No caso da Cobrasma, ex-fabricante de vagões de trem, as ações acumulam queda de 60% em 12 meses e 44% só neste ano. A situação da companhia é um grande mistério. Há anos não produz nada, apresentava patrimônio negativo de R$ 3,4 bilhões em dezembro de 2010, deu R$ 116 milhões de prejuízo no primeiro trimestre do ano e tem banco BTG Pactual entre os acionistas, com 2,7% do capital. 

Ontem, uma ação da Cobrasma custava R$ 0,10. 

Luis Eulálio de Bueno Vidigal Filho, presidente e diretor de relações com investidores, não pôde conceder entrevista ao Valor por estar fora do país. 

O banco BTG Pactual também prefere não comentar sobre a Cobrasma, segundo a assessoria de imprensa. 

Do lado das companhias, as bruscas oscilações de suas ações na bolsa nem sempre são compreendidas. 

"Há uns três anos, houve uma semana em que nossas ações dispararam na bolsa. Até agora, não entendemos o porquê disso, pois não houve nenhum evento importante", conta Marco Antônio Bertelli, diretor de relações com investidores da Gazola, do ramo de utensílios e utilidades domésticas. 

Atualmente, empresa está proibida pela Comissão de Valores Mobiliários de negociar ações na bolsa por atraso na entrega de informações financeiras. "Assim que a nossa situação estiver regularizada, vamos repensar se continuaremos como empresa aberta", diz Bertelli. 

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